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Dante e os indiferentes

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Circula nas redes sociais uma frase atribuída a Dante Alighieri que diz: “O lugar mais quente do inferno está reservado àqueles que mantem sua neutralidade em momentos de crise.”

Essa frase não consta assim no “Inferno”, mas não é mentirosa. A história espetacular é que Dante, assim que adentra o inferno acompanhado do poeta Virgílio, vê um breu total, uma “escuridão sem estrelas”, cortada pelos gritos de raiva, de medo e tristeza de uma multidão, em várias línguas diferentes. As pessoas correm de um lado para o outro tentando esquivar-se de um vendaval incessante e nuvens de insetos venenosos que as perseguem. Dante então pergunta ao seu guia o que fizeram aquelas pessoas para sofrerem assim.

E Virgílio responde que aquele espaço é o vestíbulo infernal, onde habitam os indiferentes. Por não terem buscado praticar nem o bem nem o mal com o tempo que Deus lhes deu, nem o céu e nem o inferno os aceitam. Eles permanecerão lá abandonados, pois a misericórdia e a justiça os ignoram, e até os que praticaram o mal observam aquelas almas com desprezo.

John Hutton, um padre e estudioso da “Comédia”, produziu em 1913 uma metáfora visual sobre essa parte do Inferno descrita por Dante: Os indiferentes são perpetuamente perseguidos pela ventania, pois em vida limitaram-se a observar o vento soprar, para onde quer que fosse.

Na imagem de Doré, o barqueiro do inferno, Caronte, empurra para o barco as almas dos que dali em diante serão castigados. Mas os indiferentes permanecerão, para sempre, do lado de cá da margem.

por Victor Tufani

21 de setembro de 2018

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